Exata uma semana desde o anúncio da saída da LOUD, peu falou abertamente pela primeira vez sobre o assunto. Em entrevista exclusiva ao VSpace, o ex-coach do time de VALORANT da organização confirmou a informação de que não tinha interesse em permanecer no comando da equipe para a próxima temporada e explicou que havia “divergência de ideias” dentro do elenco (confira todos os detalhes abaixo).

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Insatisfação de ambos os lados

O motivo da saída de peu da LOUD pode ser definido em uma única palavra: incompatibilidade. Perguntado a respeito do porquê a LOUD optou por demiti-lo, peu foi direto e justificou como algo natural por conta de “conflitos em todas as áreas possíveis”. Além de que, na visão dele, o trabalho não evoluiu devido a um “sistema” interno da organização.

Uma das minhas dificuldades em si e um dos motivos pelos quais eu não gostaria de continuar é justamente porque eu senti que, por diversas vezes, o meu trabalho era um pouco incompatível com todo o sistema que existia ali dentro. Isso tanto por parte de ideias muito divergentes de um ou outro jogador, tanto a forma como a gente escolhia pra lidar com isso. E assim, não foi que a gente não tentou chegar em soluções durante o ano todo. A gente buscou soluções, só que elas não trouxeram resultados. E não trazendo resultados, eu acho que culminou nessa decisão por parte deles e na insatisfação pela minha parte

afirmou peu ao VSpace.
Foto: Tina Jo/Riot Games

Afinal, por que deu errado?

A LOUD começou a temporada muito bem: bateu na trave no VCT Americas Kickoff 2024 e disputou o Masters Madrid. Só que, depois disso, tudo desandou. Para peu, a equipe passou a ignorar tudo que havia trabalhado no início e entrou em um “vício de recomeçar”.

Eu trabalho basicamente criando um sistema de jogo, de características, de coisas que o time desenvolve, que é um treinamento a longo prazo onde de certa forma você ganha experiência e você tem aquela famosa gordura para queimar quando os times começam a se adaptar. Eu acho que o que aconteceu na LOUD foi: a ideia inicial do porquê eu fui contratado era muito boa e fazia muito sentido. Só que, durante esse processo, apareceram algumas dificuldades e caímos em um vício de recomeçar. E quando você recomeça muito não tem mais a gordura para queimar.

As dificuldades que a gente passou com aquela composição de Breach, Phoenix e outros na Ascent, que foi tão criticada, não serviu para nada no final do ano porque nós tivemos que abandonar tudo. Então constantemente nós fomos um time que recomeçou, e eu acho que a falta dessa gordura para queimar, no momento em que o time foi mais exigido, foi o que culminou em não conseguirmos os resultados

justificou peu.

Pressão da torcida

Segundo peu, a torcida teve um papel importante na decisão da LOUD de demiti-lo. Ele, por outro lado, acredita que a pressão fazia sentido porque as expectativas de todos os envolvidos não foram correspondidas à altura.

Rolou uma grande pressão por parte da torcida para a LOUD não querer continuar comigo. É evidente. Acho que isso foi levado em consideração sim, e acho que a expectativa em cima do meu trabalho era muito alta. Era um time que tinha um core de jogadores que foram top-3 do Champions e estava entrando teoricamente um treinador que estava em ascensão, né, que tinha subido do VCB ganhando de forma invicta. Então acho que as expectativas [da torcida] e minhas também estavam as mais altas possíveis para a melhoria do time

disse peu.
Foto: Tina Jo/Riot Games

Críticas: justas ou descabidas?

Talvez o principal alvo das críticas da torcida da LOUD nesta temporada do VALORANT, peu precisou lidar com uma enxurrada de comentários negativos a respeito do trabalho dele na equipe. Só que o grande problema das críticas foi quando elas passaram a afetar a “bolha interna” do elenco.

Eu sou uma pessoa que está no FPS há muitos anos e me afetar de uma maneira que vai me impedir de trabalhar nunca vai acontecer. Mas me incomodava o sentimento de que as críticas de fora afetava a bolha interna. Visivelmente a bolha era furada em alguns momentos, e era onde me incomodava. Me incomodava sentir que estávamos sendo influenciados por opiniões de fora. Pessoalmente, as críticas nunca me abalaram não. Levava numa boa

revelou o ex-coach da LOUD.

A situação piorou quando peu respondeu um torcedor em uma conversa privada no Instagram. Em umas das falas, o treinador disse que a LOUD “era mais uma de várias empresas” em que atuou nos esports e afirmou que “venceu por todas” onde passou. As mensagens pegaram mal na comunidade e, perguntado sobre o caso, peu disse que se arrepende.

Eu respondia bastante a torcida numa boa. É que não apareceu ninguém por parte da torcida para me defender naquele momento, mas eu respondia de forma tranquila e respeitosa. E eu não acho que eu faltei com respeito para aquele torcedor. Eu literalmente falei o óbvio: que eu trabalho da mesma maneira em todos os times, com o mesmo profissionalismo, mesmo empenho. Só que a LOUD não é uma organização qualquer e acho que me expressei errado nisso. Eu me arrependo de ter respondido, mas é aquela faca de dois gumes que, se eu não tivesse respondido ninguém, provavelmente eu não teria conhecido uma galera que me apoia e que gosta do meu trabalho

explicou peu.

Saída do qck e entrada do pANcada: erro ou acerto?

Pela primeira vez na história, a LOUD mudou o time de VALORANT ao longo de uma temporada. No entanto, peu revelou que a saída de qck foi uma decisão única e exclusiva da diretoria da organização. Ele ainda defendeu o ex-Duelista da equipe e disse que ele era o “melhor nos treinos”, mas que nos torneios “as coisas saíam um pouco do controle”.

A saída do qck não foi uma escolha nossa, nem da staff e nem dos jogadores. A gente explicou as características que tínhamos na equipe, o que a gente podia melhorar e o que a gente podia manter. E o qck realmente não estava desempenhando bem nos campeonatos, mas ele era o nosso melhor jogador nos treinos

esclareceu o treinador.

O ex-coach da LOUD, por outro lado, acredita que a contratação do pANcada foi um acerto por parte da organização porque se encaixava bem no que a equipe precisava naquele momento. Ele ainda fez uma revelação importante: sem dizer o nome, disse que pANcada era para entrar no lugar de outro jogador ao invés de qck.

A saída do qck foi uma parada que a gente não estava meio que de acordo com isso. Por outro lado, quando fomos consultados sobre a possibilidade da entrada do pANcada, era realmente algo bom. Dentro das características que a gente tinha e o que a gente precisava melhorar, o pANcada tava dentro do que a gente tinha que melhorar, que era ter uma voz mais ativa junto com o Saadhak no servidor, um cara um pouco mais constante, um cara que consegue acalmar o time em um momento de dificuldade, um cara que chama a responsabilidade em um momento decisivo dentro de um round. Todas essas características o pANcada se encaixa como uma luva. Ele foi uma grande adição. Mas, naquele momento como equipe ali, tinham outros pontos a serem corrigidos.

Quando demos a opinião da entrada do pANcada, não era para ser no lugar do qck. O pANcada era para entrar em outra função e complementar outro jogador que não estava alinhado com as ideias do time no momento. Acabou que os jogadores se alinharam depois que o pANcada entrou. E aí, a partir daquele momento, o nosso grupo estava muito bem de novo. Só que aquela falta de característica ofensiva, que o qck trazia para nós, foi ficando cada vez mais gritante

completou peu.
Foto: Colin Young-Wolff/Riot Games

Confira na íntegra as outras respostas de peu:

Como foi a relação com stk? Teve algum atrito na questão de “cargo” ou dele estar no stage?

“O convívio com ele [stk] sempre foi muito fácil. Ele era o cara que mais se aproximava na minha linha de raciocínio e de pensamento de jogo. Ele realmente entendia. Não tive nenhum problema com ele em relação a isso. Sobre estar ou não no stage, eu estava atrás dele basicamente. Realmente, eu não aparecia, mas conseguia falar durante os pauses. Então muito dos pauses em que ele era criticado, eu estava tentando falar alguma coisa, relembrar alguma outra parte. Eu não tenho nada contra o stk, mas acho que o efeito disso [ficar fora do stage] foi ruim para mim. Isso não foi algo pensado pela organização ou por nós em si. O efeito disso não foi dentro do grupo ou uma indisposição minha com o stk, mas acho que, por eu estar escondido, fez a opinião pública achar de um modo geral que eu não estava trabalhando ou não estava fazendo alguma coisa. E as cobranças se tornaram diferentes. Então, indiretamente isso influenciou o fato de eu estar meio que escondido e tomando de uma maneira que eu não poderia me defender.

Eu apareço menos, a torcida sabe menos como eu trabalho e, com a falta de resultados, obviamente os torcedores se sentem no direito de tomar como verdade aquilo que eles estão vendo. Diversas vezes apareceram torcedores me cobrando como se eu não tivesse trabalhando, como se eu não tivesse fazendo o meu trabalho, justamente por essa falta de visibilidade. Eu acho que esse é o grande ponto da questão, mas não houve nenhum tipo de indisposição minha com o stk. Nós sempre nos complementamos bem. E, na minha opinião, todos os jogadores pensam igual: o stk é o cara que literalmente mais tentou soluções para ajudar o time durante esse ano”.

Saadhak de Duelista foi um erro?

“A gente não obrigou ele [Saadhak] a fazer isso [jogar de Duelista]. Ele queria. A primeira vez que o Saadhak falou para mim que queria jogar de Neon foi dia 22 de dezembro do ano passado. A gente chegou nos Estados Unidos e, na nossa primeira semana de treinos, treinamos com o qck jogando de Gekko e o Saadhak jogando de Neon. Era uma ideia antiga e que, naquele momento, por uma falta de alguém que pudesse suprir a necessidade que surgiu, o Saadhak quis jogar e nós entendemos que seria ok fazer isso.

A minha primeira opção particular era o tuyz porque eu não tinha muita certeza sobre a Neon no meta. Eu sabia que ela estava forte, mas eu não sabia o quanto que isso ia ser bom para o nosso time. Ia tornar nosso jogo um pouco mais direto e eu não sou muito fã disso. Eu queria jogar com os Duelistas mais padrões, e a melhor pool para isso era do tuyz. Surgiram outras opinião dentro do time. O próprio Less queria jogar de Duelista, mas a gente ia mexer em muitas coisas. Por que nós iriamos abrir mão de um dos melhores Sentinelas do mundo para ser Duelista e ser uma dúvida ainda? Era muito mais fácil colocar o pANcada de Controlador e mudar o tuyz de função para jogar com os bonecos mais simples possíveis. Essa era a minha ideia”.

Como você avalia o ano da LOUD e a sua passagem pela organização?

Pessoalmente assim foi muito aprendizado para conseguir trabalhar com um grupo bem diferente do que eu já havia trabalhado. São personalidades diferentes, são jogadores com outros momentos de carreira. Eu trabalhei com três campeões mundiais. Eu entendi mais ou menos os efeitos pós grandes conquistas dos jogadores. Eu acho que isso foi o principal que eu aprendi”.

O que você acredita que poderia ter feito de diferente na LOUD?

“Talvez na parte em que fiz o meu tryout. Eu estava muito mais passivo e esperei muito para ver qual que era a ideia deles [da LOUD] e fui complementando. Acho que teria sido mais honesto da minha parte ter mostrado que precisava de mais direcionamento. Talvez, se as coisas não dessem certo, pelo menos eu teria batido no pé muito mais cedo do que era um bom planejamento. E não ter que ver começar a dar errado para depois ser ouvido, tentar consertar e não dar tempo. Talvez ter sido mais eu mesmo, batido um pouco mais o pé porque eu não trabalho dessa forma. E acabei tomando esse hate de tabela porque deixei acontecer as coisas”.


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